Ben Kingsley conta como foi fazer o personagem surpresa de "A Invenção de Hugo Cabret"
22/02/12 05:31alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler! alerta de spoiler!
Para quem já foi ver “A Invenção de Hugo Cabret”, pode seguir em frente. Para quem ainda não viu e pretende, melhor pular este post para não estragar a surpresa.
Ok, já posso dizer?
No filme de Martin Scorsese, o ator inglês Ben Kingsley vive o pioneiro do cinema francês George Méliès, na Paris dos anos 1930 (foto acima). Falido e esquecido, ele vive como um vendedor numa loja de brinquedos numa estação de trem. Sua sobrinha Isabelle (Chloë Moretz) fica amiga de um menino órfão que mora na estação, e juntos os dois descobrem o passado glorioso do tio.
“Hugo” disputa 11 estatuetas do Oscar, uma a mais que o favorito “O Artista”. Ambos são uma homenagem ao cinema de ontem, embora com técnicas bem diferentes.
Conversei com Kingsley num quarto de hotel em Nova York, no ano passado. É sempre intimidante entrevistar esses figurões do cinema, gente que a gente admira. Passei uns dias pensando se ia encontrar o louco do Don Logan de “Sexy Beast” ou o calmo protagonista de “Gandhi”.
Vou dizer que já entrevistei na mesma situação Antony Hopkins e ele foi bem Hanibal Lecter — pior entrevista da minha vida, larguei ele no meio (ou ele me largou no meio? já nem lembro tamanho trauma).
Mas Kingsley foi mais para Gandhi, um verdadeiro gentleman, total simpatia. Falou de como muda o processo de atuação com 3D, de como Martin Scorsese se aventurou na nova técnica e de como, mais uma vez, se inspirou no diretor para fazer seu personagem.
Abaixo, trechos do nosso papo.
Pergunta – O filme tem uma passagem linda quando as crianças entram no cinema e assistem a um filme pela primeira vez. O senhor lembra do seu primeiro filme?
Todas as crianças ficam impressionadas com a primeira experiência no cinema. A coisa triste é que você nunca mais consegue ter esse sentimento de volta. Mas acho que consegui ao ver este filme, tive o mesmo sentimento de quando me sentei no cinema pela primeira vez. O que é lindo sobre este filme é que pessoas de todas as idades vão poder ter esta experiência de novo, através dos olhos destas crianças. Talvez tenha a ver com o 3D, com a luz, com o conteúdo emocional das cenas, dos atores. É Scorsese, tem a ver com Scorsese, ele tem uma habilidade de fazer filmes frescos, novos, o tempo todo.
E qual foi o seu primeiro filme?
O primeiro que eu lembro com grande clareza, do começo ao fim, é um feito numa vila italiana e em Roma chamado “Never Take No for an Answer” [“Peppino e Violetta”, de 1953]. É sobre um menino e seu burro chamado Violeta, é uma história de coragem, muito linda, sobre a sua determinação em salvar a vida do burro que está morrendo. Eu era muito parecido com o pequeno italiano do filme, poderia ser meu irmão gêmeo. E Martin Scorsese também viu o filme quando era jovem. Ele viu na TV americana e eu vi no cinema. Você acredita que ele achou o DVD do filme e me deu de presente? Foi muito incrível, emocionante.
Sendo artista e interpretando um artista, o senhor já teve essa vontade de deixar tudo para trás, como fez Méliès?
Nunca, é inimaginável, é tão doloroso porque é sua função vital. Como pessoa criativa, como contador de histórias, ter isto arrancado é difícil de imaginar. Acho muito dolorosas as cenas em que George está em sua loja de brinquedos, isolado, exilado, pobre e derrotado. Mas, claro, eu também faço o jovem George, no auge da carreira, o rei do palácio, criando. Pude criar os dois lados de George, o que me ajudou a experimentar o quanto ele perdeu. Vivi seus momentos gloriosos e suas tragédias. É um grande presente de Marty [Martin Scorsese].
Muda o processo do ator atuando para uma câmera 3D?
Fui para o cinema depois de 15 anos no teatro. E eu sabia que tinha que projetar meu personagem para mais perto de mim, não jogar coisas contra a câmera. Você pode fazer isto no teatro porque eles precisam te ouvir e te ver. Mas não faça isto para a câmara porque ela pode te ver, ela te acha. E grandes diretores podem te achar da forma mais perfeita, colocam a câmara no lugar perfeito. Você não precisa implorar pela atenção da câmara. Agora, a câmera 3D vai te examinar ainda mais minuciosamente. Vai te achar antes de você fazer qualquer coisa. Ela sabe que você vai chorar antes de. Que você vai gritar ou sorrir. Sabe que você vai sair andando, pela linguagem de corpo, pela voz, por tudo. Ela vê coisas que câmeras normais não vêm. Acho que eu e todo mundo estamos cientes deste poder e temos que ajustar a performance de acordo.
Como foi trabalhar com Scorsese em 2D [“Ilha do Medo”] e depois 3D? Teve diferença?
A reação de Martin era de aventura, de descoberta. Foi seu primeiro filme em 3D, ele estava trabalhando com grandes especialistas ao seu redor, mas ele tinha um domínio da técnica, sabia como usar, sabia onde colocar a câmera. Foi muito emocionante estar no mesmo nível de descoberta que ele. Muito emocionante mesmo.
O que mudou no processo de direção?
Nada, na verdade. Não para nós. Talvez ele tivesse conversas particulares com o pessoal do cenário, com seu diretor de fotografia e seus engenheiros de iluminação. Mas, para nós atores, acho que ele percebeu que estávamos sendo mais apurados, mais contidos, não estávamos indo atrás das câmeras como iríamos com as câmeras menores, não grandes como as de 3D. Acho que ele percebeu e aprovou. Ele é um diretor muito intuitivo, não diz muito em termos de direção. Ele dá ao ator o trabalho e o deixa fazer. Ele confia muito no processo.
Como se preparou para viver Méliès?
Vi todos os seus filmes. Isto foi perfeito para eu poder interpretar um homem que perdeu tudo. Vi o que ele perdeu, assisti a todos os seus filmes maravilhosos, feitos num estúdio em Paris, com uma companhia maravilhosa de atores. Ele fez centenas de histórias, ele mesmo escrevia, dirigia e atuava ao lado de sua adorável mulher. Deu para ter uma boa ideia dele em seu auge, ajudou muito para entender o peso de perder tudo isso. E a coisa mais próxima de Méliès hoje em dia seria Martin Scorsese, constantemente se reinventando, usando cinema como uma grande narrativa, um aparelho mágico de contação de história. Martin foi uma fonte constante de inspiração no set. Onde está meu George? Está aqui, no set comigo, ele é meu George.
E Scorsese sabia disto?
Acho que sim, acho que tinha ideia. Em “Ilha do Medo” eu contei que se alguém deveria fazer o papel de Dr. Cawley no filme era ele, Martin. Então estava basicamente fazendo o papel que seria dele.
O senhor tem tantos personagens inesquecíveis, tem algum favorito?
Não, não dá pra escolher, trabalhei com diretores tão bons, materiais tão maravilhosos. Não dá pra nomear um favorito. Ontem me fizeram um tributo, queriam que eu escolhesse trechos de seis filmes favoritos para passar. E eu… bom, eu queria pelo menos uns 12. Lembro que falei “Lances Inocentes”, “Turtle Diary” e “The Wackness” (foto abaixo).
Sua mulher é brasileira e também atriz. Vocês conversam sobre o processo de atuação?
Ela tem feito Shakspesare. Fez um papel em 2009, em Londres, e no começo deste ano. E foi oferecida outro papel para o próximo ano [2012]. Sim, adoramos discutir peças de Shakespeare. A gente ama. O inglês não é a sua primeira língua e ainda assim é incrível como ela pegou o ritmo de Shakespeare. É como um código, se você nunca quebrá-lo, nunca vai entender Shakespeare.
Quantas vezes já foi ao Brasil?
Nunca fomos juntos. Fomos fotografados juntos para a revista Caras, mas não no Brasil. Foi aqui, não muito longe de Nova York. Eu já fui ao Brasil, mas não com ela. Foi há muito tempo, eu fiz um filme muito estranho em Parati. Com um diretor francês, um filme bem ruim [“O Quinto Macaco”, de 1990, de Éric Rochat].
Já fala português?
Não, o inglês dela é muito bom (risadas).
Na foto acima, seu novo filme, a sátira política “O Ditador”, com Sasha Baron Cohen e John C. Reilly. Estreia em maio nos EUA.
Prezada Fernando, muito boa a entrevista com o grande Ben Kingsley.
Aproveito para solicitar uma ajuda, estou fazendo um levantamento de todos os filmes que utilizaram a região de Paraty como locação, incluindo aí “O Quinto Macaco” com o entrevistado acima. Você sabe onde poderia adquirir esse filme?
Um forte abraço.
Oi Rodrigo, aqui é a FernandA. Então, eu nunca ouvi falar deste filme até esta entrevista. Nunca vi… Já tentou Amazon.com americana ou francesa? Porque parece que o diretor era francês. Abraço! e boa sorte!
Thus neat!
Obrigado pelo respeito em avisar para continuar ou parar. Raro e tão necessário para o jornalismo da arte cinematográfica.
Parabéns!
PS: Felizmente continuei
Em “Ilha do Medo”, Kingsley teve outra atuação soberba.
demais, né? eu também adoro.
Fernanda, parabéns pela bela entrevista com Ben Kingsley. Gostei demais dele em “Gandhi” e “Casa de Areia e Névoa” e foi bom saber que ele é um gentleman.
Quanto a Anthony Hopkins, fiquei curiosa em saber por que ele desagradou tanto a você. Numa entrevista a outra publicação brasileira, achei-o simpático e até humilde.
Putz, isto é tema para um post. Deu tudo errado. Ele estava de mau humor, talvez minhas perguntas não fossem boas, talvez eu tenha começado errado. Sei lá. Só sei que no final eu disse que não acreditava que ele tinha feito um filme tão ruim quanto Wolfman. Virei as costas e fui embora. A entrevista era para o filme “O Ritual”. Péssimas memórias….
Q bom q ele foi simpático. Deve ser frustrante entrevistar alguém q não está mt interessado em falar.
frustante é pouco. imagina, eu era mega super fã do Hopkins. Hoje nao posso ver nenhum filme com ele! Rsrsrsrs
Jah would never give de power to de baldhead – Bob Marley
oi? meu marido é careca também, aliás, meio parecido com ele rsrsrs