Bob Marley e uma aula de história
07/05/12 07:00Fazia tempo que não via um documentário musical tão incrível. Porque, vamos combinar, os últimos (George Harrison, Pearl Jam, Rolling Stones) eram tão chapa-branca que davam vergonha alheia.
Mas “Marley” é diferente. É um filme sobre Bob Marley, sobre reggae, sobre Jamaica, sobre África. As duas horas e meia de duração passam voando.
Ao mesmo tempo em que transforma Marley em deus, o filme deixa claro que é um deus bem cheio de falhas. É um Che Guevara da música, um símbolo social e também um estereótipo multiplicado em estampas de camiseta.
É emocionante quando ele volta à Jamaica em 1978 para fazer um show pela paz, num país em frangalhos por causa da guerra civil, e consegue levar ao palco os dois líderes dos partidos rivais, que se dão as mãos para delírio da platéia.
Ele também vai ao Gabão e descobre apenas ao chegar lá que está sendo convidado por um dos piores ditadores africanos. Marley e sua banda tocam mesmo assim. E há também cenas da independência do Zimbábue, em 1980, no qual Marley vai tocar para o recém-eleito Robert Mugabe, até hoje no poder…
O filme começa em Gana, uma cena estranha, no qual um guia mostra o grande portão “Door of No Return” – onde os escravos eram embarcados e não voltavam mais. Depois, vai para o interior da Jamaica, aquela pobreza cinematográfica, e fala da infância de Marley, do pai branco, do preconceito por ser mulato, da música como escape e, claro, do encontro com a religião Rastafari.
Aqui é outra aula de história. Mas confesso que não entendi muito bem a veneração que os rastas têm com o imperador da Etiópia Haile Selassie I (1930-1974), suposta reencarnação de Jesus.
Enfim… mas é a religião que serve de “desculpa” para a mulher de Bob Marley, Rita, aceitar todas as traições (ele teve 11 filhos de sete mulheres diferentes). “Eu era como um anjo guardião, estava lá para cuidar dele. Para mim, estávamos numa missão espiritual”, ela diz.
Dois dos filhos aparecem, lembram do pai maconheiro e da dificuldade de ter amiguinhos em casa. Outras mulheres também aparecem: umas dizem que ele era bastante tímido, outras que era um galanteador de primeira.
É curioso como ele construiu seu público primeiro na Europa e teve problemas em alcançar os negros nos EUA. Seus shows em cidades americanas lotavam, mas só de brancos.
E, de uma hora para a outra, ele é diagnosticado com câncer, espalhado pelo corpo todo. De repente, o show do dia vira o último da carreira, em Pittsburgh, 1980. E ele some para se tratar num retiro holístico na Alemanha, numa cidade coberta de neve. Marley perde os dreads, aparece fraco. Morre em maio de 1981.
Anos antes, em 1977, ele tinha sofrido melanoma, um câncer de pele, e quase perdido um dedão do pé. O problema aparecera após ele se machucar jogando futebol, uma de suas paixões. Mas é triste quando um entrevistado lembra: “Se ele tivesse feito os check-ups nos anos seguintes, ele poderia estar vivo ainda hoje.”
PS – as fotos do post são do filme “Marley”, de Kevin Macdonald (“O Último Rei da Escócia”, “Being Mick”)
Não li a Bizz, mas ouvi dizer que Bob Marley era machista e violento.
Maravilha de post ! Sensacional ! Sou fã absoluta de Bob Marley e fico super feliz quando vejo que sua história nunca será esquecida, que ela será sempre contada para as novas gerações e da maneira mais verdadeira possível. Suas mensagens de libertação mudaram minha vida e certamente as de milhões de outras pessoas também e continuarão com essa função por toda a eternidade.
Ouvi dizer que Bob Marley abandonou a companheira e esposa negra para ficar com a branquela filha do empresario. Procede?
ele nunca “abandonou” a mulher, mas teve várias outras ao mesmo tempo. tem uma branquela que aparece bastante no filme, com quem teve um ou dois filhos, uma ex-miss jamaicana.
sera que consigo esse documentario em alguma midia digital?
Tomara que passe logo nos cinemas daqui….
Poxa, fiquei muito interessado… quando vem pro Rio?
Há algum tempo (na verdade, há muito tempo) também vi um documentário, acho eu, na GNT sobre o Bob. De longe era chapa branca e trazia uma desmistificação sobre sua vida pessoal e artística. Inclusive mostra a repugnância que os EUA tinham em relação ao Bob Marley. Vc já viu?
“reincarnação” mas não é mesmo…Reencarnação talvez?
O Imperador da Etiópia Haile Selassie I era um ditadoreco de quinta. Basta ver a miséria do país que ele governou.
RAS (CHEFE)+TAFARI (NOME ORIGINAL DO IMPERADOR)=RASTAFARI. Sacou.
Fernanda, vc é linda. Ai se eu te pego.
Muito interessante, será que vai entrar em cartaz em São Paulo?
nao vi nenhuma previsao ainda 🙁
Fernanda, me parece que a veneração que os rastas tem pelo rei Heille Selassie I vem da profecia do pastor Marcus Garvey (1887-1940), principal ideólogo do rastafarianismo. Ele disse que surgiria um ‘poderoso rei’ na África que iria trazer justiça aos oprimidos. Quando Selassie foi coroado, muitos jamaicanos entenderam que a profecia estava se cumprindo, embora o próprio Garvey não fosse admirador de Sellassie. A banda de reggae Burning Spear tem um álbum, lançado em 1975, que homenageia o pastor Marcus Garvey. E falando de Bob Marley, lembro-me de uma matéria que saiu na finada revista Bizz, edição 106. Nela o jornalista Otávio Rodrigues também não foi chapa branca e falou de muitas coisas obscuras da vida do Rei do Reggae. Abração e belo post.
Pois é, o filme explica muito por cima. E o tal do imperador aparece visitando a Jamaica. Muito esquisito porque ele nem parece negro, é meio mulato, mirradinho. E a mulher do Bob diz que não dava muita pelota até vê-lo passar na rua, que achou mágico… Eu comprava a Bizz! colecionava…
Eu também lia muito a Bizz só um detalhe um italiano de pele mais escura ou um espanhol ou português não deixam de serem brancos comparados a um alemão loiro de olhos azuis?, o que define a raça das pessoas alem da cor são as características e a Africa tem algumas ou muitas dessas. compare um Etiope, Somali com um Angolano são diferentes mas iguais.