"Os Bandidos" da luz vermelha
14/05/12 03:23Passei a semana em São Paulo para renovar visto e fui assistir a uns filmes brasileiros em cartaz. Estava curiosa para ver Ney Matogrosso de Bandido da Luz Vermelha, mas fiquei decepcionada. Alguém deve estar se revirando no túmulo, Rogério Sganzerla ou o próprio bandido.
“Luz nas Trevas”, estreia da sexta-feira passada, vem sendo divulgado como uma “continuação” de “O Bandido da Luz Vermelha”, clássico do cinema marginal, de Sganzerla, lançado em 1968. Porém, de continuação não tem quase nada. Está mais para um remake ou uma imitação simplesmente.
O filme novo foi dirigido por Icaro C. Martins e Helena Ignez (viúva de Sganzerla), com roteiro final baseado num roteiro inacabado do próprio diretor “marginal”, morto em 2004.
Ney é o Bandido da Luz Vermelha. Está preso, bem mais velho, maduro. Enquanto ele filosofa na cadeia, seu filho Jorge (ou o marginal Tudo-ou-Nada) sai imitando os crimes do pai — entra nas casas com uma lanterna vermelha, rouba (“euro ou ouro!”) e come.
O que me incomodou é que é parecido demais, a linguagem, as cenas, as piadas. Não tem uma pincelada de atualidade, uma releitura, uma novidade. Como se o original fosse tão a frente do seu tempo que o filme novo parece datado.
Há um paradoxo também. O personagem de Ney Matogrosso se diz o bandido de verdade e não o personagem do filme de 1968 (ele faz um comentário sobre não ter visto o filme, protagonizado por Paulo Villaça, na foto acima). Continuação do quê então? Por que esse tapa de realidade?
Outra coisa que estranhei: minha lembrança do bandido do filme de 1968 era um cara macho pra caralh&^%, destrambelhado, cafa, como o filho comedor do filme atual. E a escolha de Ney Matogrosso, que de início parecia tão genial, no fim achei fora de tom. Sua atuação tem uma delicadeza inegável na voz, nos movimentos.
E, ao final (e aqui vai um “spoiler”), ele canta uma música do Secos & Molhados e desvirtua totalmente minhas tentativas de entrar na viagem deste “bandido da luz vermelha maduro”. Realmente, era o Ney mesmo, o tempo todo.
Já que queriam homenagear o tal bandido por quê afinal de contas não fizeram um filme com o personagem que é o filho dele neste filme com o Ney? Pelo que você descreveu, o personagem tudo-ou-nada parece ser interessantíssimo.
é um cara interessante, um ator bem bom. mas ele segue os passos que acha que foi do pai, do filme original, e fica tudo igual, previsível.
Laertes,
está para estrear tb o documentario do Martin Scorsese sobre o George Harrison.
este ai acho que já saiu até em DVD, ao menos nos EUA!
O homenagem a George a que você se refere foi gravada no Albert Hall, e contou com Eric Clapton como anfitrião. Antonio Carlos se refere ao filme de Scorsese, que também dirigiu um show dos Stones.
Deveriam fazer uma refilmagem do Lúcio Flavio, embora tenha ficado exelente com Reginaldo Faria, mas hoje com as modernidade do cinema teria mais brilho, ou o bandito da cartucheira que fez varias vitima em Minas Gerais dizem mais de quarenta e a policia não conseguia localiza-lo, Foi descoberto por um agente do censo IBGE no ano 80 em Goias.Foi preso e morto na prisão.
Com tantos recursos disponíveis, o cinema vive do passado
O bom e velho cinema parece mesmo com os dias contados. Nada de novo no ar, na TV a cabo, nem nas telas dos cinemas dos shoppings que se constroem em ritmo alucinado pelo país afora. Será que o ciclo de vida da indústria cinematográfica realmente chegou ao fim? Ou este é apenas mais um daqueles períodos de vacas magras, intercalados por ondas de criatividade?
Enquanto não vier o tsunami criativo, VOU DANDO MEUS PALPITES. Apostem suas fichas na primeira hipótese ou nas Flash Quotes da NASDAQ. Assim, não há motivo para pânico, pois o mesmo aconteceu com o drama, com o romance. A fila anda e, em matéria de arte, todos os gêneros têm seu tempo, seus quinze minutos de fama, seu período de ascensão e queda.
Seja como for, os atuais projetos cinematográficos não acrescentam grandes novidades ao universo da sétima arte. As novas gerações que me desculpem, mas essa é a triste realidade que se vê hoje, em todas as dimensões. Aliás, uma realidade restrita ao universo virtual que se constrói em torno de si mesmo.
Nesse círculo vicioso, são raros os exemplos concretos de originalidade. A imensa maioria dos lançamentos não passa de sinopses da vida dos ídolos do passado, quando ainda era possível questionar o mainstream. A poucos caberia o rótulo “marginal”. Até porque hoje quase ninguém mais aceita ser tachado como tal e a maioria concorda que o termo nunca foi tão carregado de acepções depreciativas.
O filme de Walter Salles On the Road é um exemplo que saiu do papel, mas já nasceu com meta predefinida. Dizem que o diretor gastou mais tempo para acertar os direitos de exibição do que no set de filmagem propriamente dito. A história de Jack Kerouac pode ganhar dramaticidade no cinema, mas não atinge o ritmo frenético que o escritor impôs ao texto original usando apenas uma máquina de escrever Underwood para datilografar suas aventuras e construir a narrativa mais célebre da beat generation.
Além de Pé na estrada, outras homenagens a ídolos do passado estão sendo produzidas e devem estrear nos próximos meses. Entre elas destacam-se o musical sobre Bob Marley, documentário com duas horas e meia de duração que obteve boa aceitação da crítica; a comovente história de Ayrton Senna, que será estrelada por Rodrigo Santoro; além de um revival da meteórica e kamikaseana carreira de Jimi Hendrix.
Com o título All Is by My Side, o filme sobre a vida de Jimi Hendrix cobre praticamente toda a trajetória do guitarrista, desde os tempos que passou na Inglaterra (1966/1967) trabalhando em seu álbum inicial, Are You Experienced, até 1970, ano em que foi encontrado morto em circunstâncias não muito claras em Londres. A direção fica por conta do roteirista John Ridley. Para as filmagens iniciarem, só falta acertar um detalhe: não há informações se o filme já adquiriu os direitos sobre as canções.
Esses aí são apenas alguns exemplos das produções anunciadas recentemente. Assim como elas, deve haver dúzias de projetos esperando uma oportunidade de cair nas graças de algum produtor executivo. Se no Século 20 o novo era o nosso maior objeto de desejo, hoje o nosso caso é com o passado. Pelo menos, a lua de mel já foi planejada e os recursos estão assegurados pela NASDAQ.
Fernanda, essas continuações realizadas depois de certo tempo sempre são arriscadas e os resultados, quase sempre, desastrosos, ainda mais quando não feitas por seu idealizador. Mas há exemplos bacanas. O Denys Arcand soube fazer “O Declínio do Império Americano” (1986) e “Invasões Bárbaras” (2003). Gosto muito desses filmes. E sensacional a frase: “Alguém deve estar se revirando no túmulo, Rogério Sganzerla ou o próprio bandido”. Abração.