"Xingu" Mon Amour
16/05/12 03:40Outro filme brasileiro que fui ver durante minha passagem por São Paulo foi “Xingu”. Adorei do começo ao fim, é daqueles que a gente não quer que acabe nunca.
O diretor é Cao Hamburger, o mesmo de “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, que ficou entre os oito finalistas para o Oscar de filme estrangeiro em 2008.
“Xingu” é filme de ficção com cara de documentário. Conta a aventura dos irmãos Villas-Bôas durante a expedição Roncador-Xingú, na década de 40, que acabou levando à criação do primeiro parque indígena do país, em 1961.
Os três irmãos — Claudio, Leonardo e Orlando — saem como aventureiros pelas profundezas do Brasil e se encontram com índios que nunca antes haviam visto homens brancos.
Não tem como fugir do deslumbramento da descoberta, do temor do perigo. Me senti dentro da canoa, queria abraçar o cacique, bisbilhotar os detalhes da aldeia.
Mas a ingenuidade passa rápido. Logo os irmãos estão negociando com militares e se metendo com as índias. Talvez por medo da pieguice, o diretor apresenta os dois romances do filme de forma bem leve, delicada, quase por acaso, embora sejam essenciais para a história.
Cao foca nos irmãos, nas intrigas pessoais e idealismos. Os índios seguem um mistério, com suas etnias variadas, línguas estranhas, rituais. De uma forma respeitosa, é como se o diretor se colocasse ao lado dos irmãos, como um quarto integrante.
Talvez tenha gostado tanto do filme pelas lembranças que trouxe. Trabalhei por quase um ano como “educadora” de uma exposição de arte indígena, em 1999 ou 2000. Era dentro do evento “Brasil 500 Anos”, no Parque Ibirapuera.
Levava a criançada, além de grupos de idades variadas, para ver a “joia” da exposição, o tal do “manto tupinambá”, e contar as histórias dos índios canibais. Passei uns dois meses estudando isto, além das máscaras, dos rituais de iniciação dos meninos, da fabricação das urnas funerárias, dos cestos, da mandioca.
A mostra ficava no prédio conhecido como Oca, de cimento. Apesar do nome, não tinha nada de “indígena”. Era gelado lá dentro, e as peças ficavam protegidas por vitrines de vidro. Ainda assim, foi um dos trabalhos mais legais que já fiz.
uma pena o longa não ter sido visto por tanta gente (ainda). “Xingu” é realmente belo… Após a sessão do filme em que estive presente, bateram palmas!
na minha também!! e olha que o cine tava vazio 🙁
Boa crítica, Fernanda. O tema é interessante e importante. Cao Hamburger fez um bom trabalho, o elenco foi bem escolhido. Mas muitos espectadores reclamaram do ritmo lento, e o produtor Fernando Meirelles, descontente com a fraca bilheteria, declarou que o filme atingiu mais a classe A e não as classes populares. E completou, dizendo que desistiu de filmar “Grande Sertão: Veredas”.
Vale lembrar que “Xingu” concorreu em bilheteria com os blogbusters.
Oi Elvira, welcome back! 🙂 A ideia não era fazer uma crítica, apenas um comentário. Que pena que Meirelles desistiu de fazer “Grande Sertão”, seria uma verdadeiro blockbuster brasileiro! Em termos de gastos e história, claro. Talvez não de audiência, é verdade…
Fernanda, “Xingu” é legal que resgata o trabalho dos Irmãos Villas-Bôas. O Brasil não soube dar valor a estes sertanistas. Lembra quando o Orlando Villas-Bôas foi demitido via faz da FUNAI. Outra coisa bacana foi ver que o Cao Hamburger também é bom fazendo filmes ‘adultos’. E sobre o cinema nacional, gostei muito de “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”. Acho o Beto Brant é uma cineasta acima da média.
Fui ver também o filme do Brant! Gostei mais ou menos, não sei ainda. Achei o roteiro meio corrido no final. A Pitanga está um desbunde, literalmente… Mas uma coisa me irrita muito: pra mostrar a Pitanga peladona, tudo bem, sem pudor algum. E na hora de fazer o mesmo com os atores, ninguém mostra nada. Meu lado feminista realmente se inquieta! 🙂
Vou assistir! Tive algum contato quando estudava Sociais na PUC-SP, e sempre havia debates sobre a cultura e a situação do indígena no Brasil, sempre havia representantes de tribos. Lembro da primeira vez que encontrei um monte de indiozinhos eufóricos brincando de escorregar nos corre-mãos das escadas, para desespero dos seguranças.