Bate-papo com Alan Ball, de "True Blood"
26/06/12 07:00Semana passada, conversei com o criador de “True Blood”, Alan Ball, que deixa a série após a quinta e atual temporada. Ele conversou comigo e outros cinco jornalistas estrangeiros numa sala dos estúdios da HBO, em Los Angeles.
A matéria saiu na Ilustrada de hoje e começa assim:
Alan Ball, criador da série “True Blood”, está no set de filmagens, dentro do restaurante Merlotte’s, onde a protagonista Sookie Stackhouse (Anna Paquin) trabalha de garçonete. Ele abre a geladeira repleta de cervejas e anuncia aos visitantes: “Hoje não tem Tru Blood”, diz, sobre a bebida feita de sangue sintético tomada pelos vampiros do seriado.
A quinta temporada de “True Blood”, que estreou no Brasil neste mês, traz novos personagens e uma trama apimentada por questões políticas e religiosas. Será a última de Ball como produtor-executivo, após montar o seriado em 2008 baseado nos livros de Charlaine Harris. Uma foto dos dois juntos, abraçados, está grudada no balcão do bar do Merlotte’s .
“Estou à beira de enlouquecer, saio pela minha saúde mental. Vou tirar férias, recarregar as baterias, pensar no que quero fazer”, disse Ball. Continua…
Leia os principais trechos da entrevista:
Pergunta – Como fazer para manter o frescor da série depois de cinco anos?
BALL – Sou muito sortudo de trabalhar com cinco escritores realmente espertos e cheios de ideias. Não sou eu apenas. E, entre nós seis, acho que é muito mais fácil do que se fosse apenas uma pessoa.
Pergunta – Como vai ser na próxima temporada? Você irá se afastar totalmente?
BALL – Vou dar palpites nos roteiros e cortes finais, mas estarei no banco de atrás. Mark Hudis, outro escritor e produtor, vai liderar o seriado. Temos quase os mesmos roteiristas do começo, e o seriado praticamente anda sozinho. Todo mundo conhece a série muito bem, conhece os atores, os produtores, sabe o que é preciso ser feito. Vou sair porque estou à beira de enlouquecer. Não quero fazer isto comigo, não quero ser hospitalizado.
Pergunta – Por que enlouquecendo?
BALL – É um trabalho tremendo. Ficamos em produção durante oito meses e em pré-produção outros dois. É como fazer um filme por dez meses. E, nestes dois meses do ano que sobram, você já começa a pensar em novas ideias. Não sou mais jovem. Já fiz seis anos de “A Sete Palmos”, dirigi um filme e escrevi uma peça produzida em Nova York e fui direto fazer “True Blood”. É como se não tivesse tido férias em 12, 13 anos. Então, pela minha saúde mental, eu saio. Vai ser bom para o seriado também, ter uma nova e fresca perspectiva. Algumas coisas que os roteiristas sempre quiseram fazer e eu sempre vetei quem sabe agora eles podem fazer [risadas].
Pergunta – E como fica “Banshee” [novo seriado que estreia em 2013]?
BALL – A maior parte do trabalho que tinha em “Banshee” já está feito. Ajudei a desenvolver o conceito e trabalhei com roteiristas. Agora está em produção e tem um produtor-executivo próprio. Estão fazendo um ótimo trabalho. Vi o primeiro episódio e está bem além do que esperava. Meu papel era apenas na gênesis e não no dia-a-dia. Agora vou apenas tirar uns dias de férias e relaxar. Recarregar as baterias e pensar no que eu quero fazer.
Pergunta – Planeja algo especial para a temporada de despedida?
Não, fiz o que tinha que ser feito, negócio normal. Tenho um discurso pronto para a festa de final de temporada para agradecer por tudo. “True Blood” vai continuar a ser “True Blood”. Eu não sou “True Blood”. Só porque eu sou o rosto de “True Blood” muitas pessoas acham que tudo vem de mim e não é o caso. É uma grande colaboração. Muitos dos melhores momentos da série não vieram de mim, sou o primeiro a admitir. Mas eu moro a 15 minutos daqui. Virei visitar o set. Não é que estou sumindo de vez.
Pergunta – O que podemos esperar para esta temporada?
BALL – Política e religião. Podem esperar duas novas criaturas meio sobrenaturais, uma delas pode ser divina. Há uma grande revelação sobre o passado da família de Sookie e Jason, além de outras atrações românticas inesperadas. Muitos sustos. E uma cena de sexo fantástica, talvez a melhor que já fizemos.
Pergunta – Entre quem?
Não vou dizer. Entre duas pessoas bem atraentes [risadas].
Pergunta – Quem é o personagem de Christopher Meloni, Roman?
Ele é o guardião, líder do Authority, uma espécie de religião barra grupo político. Como a Igreja Católica Romana e a Suprema Corte. Foram eles quem investiram no desenvolvimento da bebida Tru Blood ou tomaram a decisão de se integrar na sociedade. Roman tem sido o guardião por pelo menos 400 anos. Ele acredita na coexistência entre vampiros e humanos. Há outra facção na comunidade de vampiros [os Sanguinistas], dentro da Authority, que acredita que vampiros deveriam tomar o topo da cadeia alimentar, como escrito na bíblia dos vampiros. Acreditam que os humanos deveriam ser comida e nada mais. Deveriam ser criados em fazenda. Acham que qualquer envolvimento entre vampiros e humanos é uma bestialidade. Então Roman é o cara que a gente quer que ganhe. Caso contrário, as coisas vão ficar feias para os humanos.
Pergunta – Houve inspiração em políticos de verdade para criar Roman?
Claro. Eu estava acompanhando as primárias dos republicanos e vendo que havia pessoas que realmente queriam que os EUA fossem de verdade uma teocracia. É muito difícil não ouvir isto e não pensar: “ok, eu realmente espero que alguém sensato ganhe porque essas pessoas são loucas”. Na minha cabeça, Roman é o sensato, e os Sanguinistas os doidos.
Pergunta – Como a gravidez de Ann Paquin impacta as filmagens? [Ela é casada desde 2010 com o ator Stephen Moyer, que faz o vampiro Bill Compton]
BALL – Sua personagem não está grávida. No episódio oito, a figurista Audrey Fisher veio me dizer que Sooki [Paquin] não poderia mais usar o uniforme do Merlotte’s [restaurante que ela trabalha de garçonete]. E eu disse: “Não é problema, ela nunca trabalha mesmo”. [Risadas]. De fato, Sookie está sempre perseguindo alguma coisa e quase morrendo. A quarta temporada acabou no Halloween, então a quinta começa em novembro, as pessoas estão usando casacos e tal. Há algumas estratégias na hora de filmar e também contratamos uma dublê de corpo.
Pergunta – Qual o limite para filmar cenas de sexo na TV?
BALL – Fiz um filme chamado “Twelhead”, sobre uma garota que é molestada. Alguém me perguntou qual era a diferença entre pornografia e arte. Bem, pornografia é sobre partes do corpo, e arte é sobre almas. Nunca vamos mostrar cenas de nu frontal em “True Blood”. Nunca vou pedir isto. Mas acho que sexo é muito parte do seriado. É uma série sobre o lado primitivo da psique humana do qual surgem monstros e desejos. Sempre quis que as cenas de sexo fossem feitas baseadas em algo emocional entre os personagens, mesmo no caso de Jason, que faz sexo para evitar seus sentimentos. Não é apenas para mostrar gente pelada, há pornografia para isto. Mas sempre tentei evitar essa coisa recatada que é o sexo na TV americana ou filmes, tão idealizado e ridículo. Em outras culturas, sexo parece mais natural e real. Claro, é ridículo e exagerado quando alguém morde alguém, mas, pela maior parte do tempo, a gente tenta ser ser realista. Temos sorte porque os atores não têm problemas de explorar isto. É preciso dizer, a maioria não é americana. E acho que eles deram o tom logo no início porque não estavam nervosos.
Pergunta – Tara (Rutina Wesley) era a personagem que mais odiava vampiros. Como vai ser agora que ela é um deles? Ela vai aceitar ou vai ser um conflito durante a série toda?
Vai ser um conflito. Cedo ou tarde, ela vai perceber que há coisas boas. Tem uma cena mais no final da temporada que alguém diz pra ela: “Nenhum humano poderá te machucar. Nunca mais”. E ela tem esse olhar de: “Uau, nunca pensei sobre isso”.