Sundance: Violência e entretenimento
20/01/13 23:57Já estamos no quarto dia de Sundance e perdi a conta dos filmes que vi que falam sobre ou mostram explicitamente sexo (“Don Jon’s Addiction”, “Two Mothers”, “The Look of Love”, “Leather. Interior Bar” etc).
Mas o assunto que corre nas beiradas é ainda violência no cinema, ainda que tenha visto aqui apenas um filme no qual armas são disparadas: o excelente “Mud”, com Matthew McConaughey no papel de um fugitivo romântico escondido numa floresta e que recebe ajuda de dois garotos.
Na coletiva de imprensa, o tema surgiu para o cofundador do festival, Robert Redford. “Será que minha indústria pensa que armas vão ajudar a vender ingressos? Não é uma pergunta que eu tenha a resposta”, disse. “Mas me parece uma pergunta razoável a se fazer já que tantas armas aparecerem nos anúncios.” Mais aqui.
Na semana passada, o presidente Barack Obama pediu ao Congresso que financie uma pesquisa de US$ 10 milhões sobre o impacto nas “mentes dos jovens” de videogames e imagens da mída.
Ontem, chegou por aqui em Sundance uma edição especial da Variety sobre “violência e entretenimento” (foto da capa acima, contracapa abaixo). São 78 páginas e 40 contribuidores escrevendo sobre o assunto.
Tem, por exemplo, Vince Gilligan, criador de “Breaking Bad”, justificando e explicando a complexidade das passagens violentas do seriado, tão intrínsecas na história:
“Queremos que estes momentos de violência toquem o telespector de forma profunda, mas nunca os pensamos de forma sensacionalista”, escreveu Gilligan. “Na maior parte das vezes, a violência na história tem como objetivo ser um efeito transformador em nossos personagens”.
A edição traz um amontoado de opiniões diversas. James Stern, produtor de “Looper” e diretor de um documentário sobre armas nos EUA, é entrevistado, assim como Callie Khouri, roteirista de “Thelma & Louise” e criadora do seriado “Nashville”, e Mike Hammond, do grupo Gun Owners America.
Larry Flynt, do império Hustler, que ficou paraplégico após uma tentativa de assassinato, também participa e defende a Segunda Emenda da Constituição americana (aquela que permite portar armas e se defender). “Mas não acho que os ‘founding fathers’ queriam dizer [com a segunda emenda] pessoas com basucas e lançadores de granadas”, ponderou.
Sundance vai até dia 27 e tem três filmes que abordam uso de armas: o documentário “Valentine Road”, sobre um tiroteiro numa escola da Califórnia, o longa de ficção “Blue Caprice”, baseado em ataques de 2002, e o curta “Gun”, sobre um homem que compra uma arma para proteção própria e fica obcecado com seu novo senso de poder