Quem já foi a Machu Picchu, no Peru, ou a outros lugares (pré)históricos, deve entender esta sensação: sair com mais perguntas do que respostas.
Stonehenge, a 150km de Londres, é batata. Ninguém sabe ao certo como as pedras foram parar lá, nem pra quê serviam. Talvez a única certeza seja a data: tem 5 mil anos.
Estou viajando de novo, na Califórnia. Quando chegar em casa, escrevo mais. Até lá!
Acabou de passar por aqui o ônibus espacial Endeavour, preso a um Boeing 747.
Hoje a nave começou sua última viagem com destino ao aeroporto de Los Angeles. A partir de 30 de outubro, ficará exposta no museu California Science Center.
A Endeavour fez sua última missão em maio-junho de 2011.
Nas redondezas de casa, em Hollywood Hills, todo mundo parou para vê-la passar. Na Mulholland Drive, o trânsito ficou complicado (foto abaixo).
Fazer cinema, seja de verdade ou de mentira, é a desculpa usada na trama de dois filmes poderosos apresentados no Festival de Toronto: a ficção baseada numa história real “Argo” e o documentário sobre assassinos na Indonésia “The Act of Killing”.
O primeiro, dirigido e estrelado por Ben Affleck, já está entre os favoritos dos críticos para liderar a temporada de prêmios de Hollywood.
O longa, que estreia no Brasil em novembro, segue o resgate de seis americanos em fuga no Irã, após militantes armados invadirem a embaixada dos EUA em Teerã, como parte dos tumultos da Revolução Islâmica de 1979.
Um agente da CIA (Affleck) bola um plano mirabolante com ajuda de dois figurões de Hollywood.
Ele tentará entrar no país como se fosse um produtor canadense de um filme de ficção científica chamado “Argo” e sair dois dias depois com sua “equipe de filmagem”, os seis americanos agora transformados em canadenses, roteirista, diretor, produtor associado etc.
“Embora a história tenha 30 anos, ainda é muito relevante, atual”, disse Affleck a jornalistas em Toronto.
“No sentido de que é sobre as consequências sem intenção da revolução, ainda estamos lidando com as mesmas questões daquela época. E há paralelos reais com o que está acontecendo na Primavera Árabe, da Tunísia ao Egito e à Síria”, completa.
O filme, que será exibido no Festival do Rio neste mês, mistura a tensão de thriller de espionagem pelas ruas caóticas de Teerã com uma sátira de Hollywood e seus costumes, como quando é feita uma leitura do roteiro numa festa glamourosa em Los Angeles para jornalistas.
Ironias e piadas sobre a indústria geraram risadas em Toronto. Para o crítico Roger Ebert, “Argo” será o vencedor do Oscar de melhor filme. “Como eu sei disso?”, ele escreveu em seu site.
“Porque foi o favorito do público […] Toronto tem uma maneira estranha de prever vencedores da Academia”, continuou, citando “Onde os Fracos Não Têm Vez” e “O Discurso do Rei”.
THE ACT OF KILLING
Já o documentário de Joshua Oppenheimer e Christine Cynn traz entrevista com o líder paramilitar Anwar Congo e seus comparsas, incluindo o dono de um jornal, todos assassinos confessos vivendo livremente na Indonésia, orgulhosos de todos os seus crimes.
Os diretores convencem Congo e sua gangue, que chegaram ao poder após o golpe militar de 1965, a encenar suas táticas de tortura e matança, como se fosse um filme de verdade, incluindo figurinos e efeitos especiais.
Fã de James Bond e John Wayne, Congo pinta os cabelos para o filme e reclama de uma cena. “Melhor fazer de novo, eu nunca usaria uma calça branca para matar.”
“Não cruzava com um documentário tão poderoso, surreal e assustador como este em uma década”, escreveu Werner Herzog, produtor executivo do longa, junto a Errol Morris.
Outro longa-metragem épico em cartaz no festival, embora percorra apenas três gerações, é “Os Filhos da Meia-Noite”, também baseado em livro e com roteiro assinado pelo próprio autor, Salman Rushdie.
O longa da diretora Deepa Mehta conta a história de dois jovens nascidos no mesmo hospital de Bombaim, à meia-noite do dia 15 de agosto de 1947, no exato momento em que a Índia se tornava uma nação independente.
Trocados no nascimento, o menino pobre fica com a família rica e vice-versa.
Os dois têm poderes especiais, e suas trajetórias são contadas de acordo com os tumultuados eventos políticos do país.
“Não acho possível fazer um bom trabalho sem andar na beira do precipício. Há um perigo em fazer um filme ambicioso, mas você precisa se dar o direito de cair”, disse Rushdie ao jornal “Vancouver Sun”.
“O que pode acontecer de pior? Terminar com um livro ruim, um filme ruim?”
“A Viagem”, um dos filmes mais aguardados desta edição do Festival de Toronto, é o trabalho que mais dividiu a crítica até agora, com uma narrativa de proporções épicas e elenco estrelar, reunindo seis histórias que se passam entre 1849 e 2144.
Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon, Hugo Weaving e Hugh Grant interpretam diversos papéis com maquiagem pesada e próteses, às vezes até personagens de outro sexo, muitas vezes irreconhecíveis.
Hanks, por exemplo, faz um médico ruivo numa viagem de barco no século 19, um cientista nuclear na San Francisco dos anos 1970 e um velho camponês num futuro incerto. Já Weaving (foto acima) interpreta vilões e também uma diretora durona de um asilo nos dias de hoje.
O semanário “Hollywood Reporter” disse que “A Viagem” deve ser o “primeiro filme perfeitamente feito para a geração com transtorno de déficit de atenção”.
A revista on-line “Slate” afirmou que o trabalho é “um desastre sem paralelo”.
Já a “Variety” achou que o longa-metragem proporciona “três horas de malhação mental intensa recompensadas com um grande desfecho emocional”.
Uma cena de orgia numa praia ensolarada abre o novo filme do diretor brasileiro Marcelo Gomes, “Era uma Vez Eu, Verônica”, sobre a crise existencial de uma médica recém-formada, no caos urbano de Recife.
O longa-metragem é estrelado por Hermila Guedes (“O Céu de Suely”) e foi exibido pela primeira vez no Festival de Toronto, numa sala lotada. Amanhã, concorre ao prêmio principal do Festival de Brasília. Depois, passa na Mostra Internacional de Cinema, que começa em 19 de outubro.
Verônica é uma jovem que mora com o pai doente em um apartamento perto da praia e começa a atender pacientes com problemas mentais no hospital público. No tempo livre, ela sai com as amigas e faz sexo com Gustavo (João Miguel).
“Queria desenvolver um personagem extremamente comum, com dúvidas sobre a vida, sobre o amor, sobre o futuro, sobre o sexo”, disse Gomes à Folha.
O cineasta gosta de citar como referência para Verônica personagens clássicos do cinema como a protagonista de “Mônica e o Desejo” (1953), de Ingmar Bergman. “Acho que a Verônica é a prima da Mônica.”
O músico Tom Waits está de volta aos cinemas com um personagem genial no filme “Seven Psychopaths”, de Martin McDonagh (“In Bruges”).
Ele faz um dos psicopatas do título, sempre carregando um coelhinho.
O filme foi exibido pela primeira vez aqui no Festival de Toronto.
A trama não é muito incrível, mas os personagens e os atores são. Christopher Walken está genial como um ladrão de cachorros meio dândi, em Los Angeles. Woody Harrelson é um mafioso espalhafatoso, apaixonado pelo cãozinho Shih Tzu sequestrado por Walken.
E Sam Rockwell é outro psicopata, o mais doido de todos e melhor amigo do personagem de Colin Farrell, um roteirista em crise em Hollywood, tentando escrever um filme chamado “Seven Psychopaths”.
É uma história que brinca com o clichés, especialmente da indústria de Los Angeles, com cenas bem violentas que chegam a ser engraçadas.
Waits, que tem uns filmes incríveis no currículo, faz Zachariah, que na juventude saiu pelo país com sua namorada matando criminosos. Ele responde um anúncio no jornal publicado por Rockwell, que procura psicopatas para ouvir suas histórias e inspirar o amigo Farrell no roteiro.
Uma luxuosa casa de repouso para músicos aposentados é o cenário para a simpática comédia “Quartet”, estreia na direção do ator Dustin Hoffman, que resgatou artistas esquecidos entre 70 e 90 anos para brilhar ao lado dos quatro protagonistas.
“Não sei porque demorei tanto [para dirigir]. Ainda estou tentando descobrir isto com meu terapeuta”, disse com uma risada o ator de 75 anos à plateia do Festival de Toronto, onde o filme foi exibido pela primeira vez, na noite de domingo (9).
Ao seu lado estavam Maggie Smith (foto acima), Pauline Collins, Billy Connolly e Tom Courtenay, que interpretam cantores de ópera e amigos de longa data morando na Beecham House, uma mansão a 40km de Londres povoada por velhinhos talentosos e algumas rixas do passado.
Snoop Dogg trocou os tiroteios e as prostitutas de seus raps nervosos pela malemolência do reggae paz e amor, numa viagem espiritual à Jamaica devidamente documentada e turbinada por cigarros gigantes de maconha.
Seu nome agora é Snoop Lion –ou pelo menos até ele terminar de divulgar seu novo álbum, “Reincarnated”.
“É apenas mais uma página do meu livro, por favor aproveitem”, disse o rapper de 41 anos a jornalistas do Festival de Toronto, no Canadá, onde ele apresentou o
documentário que leva o mesmo nome do disco e foi dirigido pelo editor da revista “Vice”, Andy Capper.
Com um grupo de músicos “importados”, incluindo Diplo e dois compositores, Snoop fez o álbum durante um mês de estadia na ilha, quando se converteu ao rastafári.
“Não falo um só palavrão no disco todo. Eles [produtores] pediam para eu fazer uns raps no meio das músicas, mas eu não queria”, disse Snoop, que, no entanto, não pretende abandonar o gênero por completo.
“Como artista, entendo o business. Se os fãs quiserem Snoop Dogg, eu vou dar a eles Snoop Dogg.”