Hannah tem 20 e poucos anos e ainda vive da mesada dos pais, no Brooklyn, em Nova York. Quando a família decide cortar a mamata, ela argumenta que precisa do dinheiro para virar a grande escritora que acredita ser.
“Posso ser a voz da minha geração”, diz, chapada de ópio, para os pais. “Ou, pelo menos, uma voz, de uma geração”, conclui, desmaiando em seguida.
A cena está no primeiro episódio de “Girls”, cuja protagonista Hannah é vivida por Lena Dunham, nova-iorquina de 26 anos que criou a série, é sua produtora-executiva, diretora e roteirista.
Clipe
Com críticas bem elogiosas e cinco indicações ao Emmy (melhor série cômica, atriz, direção, roteiro e escalação de elenco), restam poucas dúvidas de que “Girls” seja, de fato, a voz de sua geração.
“Sabíamos que a frase era perigosa porque as pessoas achariam que é a voz do autor aparecendo. Mas o fato de ela [Hannah] estar completamente chapada quando fala isso tira o peso da situação”, diz Dunham, rindo, a um grupo de jornalistas em Los Angeles. “No fundo, ela espera ter um propósito no mundo.”
“Girls”, que estreia amanhã no Brasil, na HBO, narra os altos e baixos da vida de quatro amigas enquanto tentam entrar (ou fugir) no mundo adulto. Diálogos realistas conduzem o grupo por situações desconfortáveis, ora cômicas, ora humilhantes (como nas várias cenas de sexo).
“A gente está sempre se perguntando: ‘Isto soa real? É um retrato verdadeiro deste período da sua vida?'”, explica Lena, que baseia parte das histórias na sua vida e na de seus amigos próximos.
Além da insegura Hannah, há a descolada Jessa, a agilizada Marnie e a inocente Shoshanna. O cenário nova-iorquino hipster e o quarteto central fazem pensar em “Sex and the City”, estrelado por Sarah Jessica Parker entre 1998 e 2004, mas a Nova York de “Girls” é mais pé no chão.
Com medo das comparações, Dunham cogitou centrar a ação num trio, mas logo percebeu que não adiantaria. Fã de “Sex”, resolveu abraçar as semelhanças e incorporou à história Shoshanna, fanática por Carrie.
NY IRREAL
“Queria mostrar que são garotas que cresceram vendo ‘Sex and the City’, mas que não estão tendo a mesma experiência”, explicou Dunham, que nunca perdeu um episódio e assistia a maratonas de final do ano com a mãe –com quem ainda dividia o teto até este mês.
“A série criou uma expectativa com Nova York que não pode ser concretizada na vida real. É neste ponto que ‘Girls’ diverge.”
Dois anos atrás, Lena chamou a atenção de Hollywood ao escrever, dirigir e estrelar “Tiny Furniture”, comédia de humor negro parecida com “Girls”, sobre uma garota que volta a morar com a mãe após se formar em cinema. (trailer)
O filme ganhou prêmio no festival independente South by Southwest e abriu as portas para outros projetos, como a série da HBO, coproduzida por Judd Apatow (diretor de “Ligeiramente Grávidos”), responsável pelo seriado cult “Freaks and Geeks”.
“Judd e eu achamos graça nas tragédias pessoais do dia a dia, especialmente quando você tem 24 anos e acha que tudo é o fim do mundo”, conta Dunham.
A primeira temporada de “Girls” terminou em junho nos EUA. A segunda já está sendo gravada, e Dunham adianta o que esperar das próximas: “Elas não serão garotas para sempre, mas seria engraçado um seriado sobre mulheres de 30 anos chamado ‘Girls’. Afinal, na cabeça delas, elas ainda serão garotas por muito tempo.”
Leia a crítica da Teté Ribeiro, editora da Serafina
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